quarta-feira, 28 de maio de 2014

Em defesa do "feijão com arroz!"



Todo mundo sabe o quanto o trabalho da "coroa" é referência pra mim. Não apenas pela marca criativa, ou pelo fino acabamento de suas criações, mas, sobretudo, pelo embasamento intelectual de sua obra. "Dona Rosa" é a "ponta" de uma "corrente" onde Fernando Pamplona está no princípio. São os dois, os maiores pensadores que "fizeram" do desfile das escolas de samba, muito mais do que um desfile de beleza plástica. 
Em tempos de enredos ruins, desenvolvimentos pífios, escassa criatividade, e cópia de modelos internacionalizados, a carnavalesca em questão é a mais necessária profissional da atualidade. 
Penso que ela esteja para o carnaval carioca como o “feijão com arroz” está para o do prato brasileiro: “Sem ele – ou ela - a “refeição” não está completa.” Sem ela – brasileiríssima, criativa, debochada e irônica – o “cardápio” da folia carioca ficaria sem graça, sem sal, com gosto de requentado, ou, com aquele sabor “padronizado” de uma rede de fast-food. Numa safra de propostas carnavalescas, que quando não são “sopa de água rala,” são “hambúrgueres” Hollywoodianos, o “feijão com arroz” – perfumando no alho frito, refogado na cebola e na medida certa do sal – SEMPRE será a melhor pedida. Salve a “Rosa” que permanece em atividade! Salve a inteligência que nos diverte! Seu Barroco tropical! Sua "juventude" criativa e sua "velha" modernidade! 

sexta-feira, 14 de março de 2014

A Imperatriz "boa de bola!"

















Ao tratar um astro do futebol como tema de seu carnaval, a Imperatriz Leopoldinense transformou a vida do homem que escolheu como enredo em um teatro que envolve sua paixão: O gosto por carnavalizar e a aptidão em tornar temas densos, em alegres passagens carnavalescas traduzidas em samba e plasticidade.
No enredo que apresentamos, a Imperatriz utiliza o futebol como pretexto para mergulhar em suas obsessões carnavalescas. Ela mais uma vez quer subverter a ordem historiográfica para criar um ponto de vista particular, a seu modo, e a sua maneira.  Debruçada em expressões populares – como a que diz que aqui é “o país do futebol” – ela cria “mundos” próprios, onde o que ela fantasia, é fundamentado sobre uma ideia coletiva existente no senso comum, mas que não tem a condição de assumir a realidade, senão pelas “mãos" permissivas dos dias de folia.
Certa vez, com a sabedoria costumeira, o escritor e jornalista Nelson Rodrigues definiu o Brasil como “a pátria de chuteiras.” A intenção da expressão cunhada pelo cronista era definir a paixão coletiva do povo brasileiro por um esporte que nasceu inglês, mas foi naturalizado verde e amarelo, não apenas em função da categoria de nossos profissionais, mas, sobretudo, pela prática diária e coletiva de um esporte tão enraizado, ao ponto de alguns estudiosos o considerarem uma legítima manifestação cultural, que configura o principal fenômeno da psicologia coletiva do país, contribuindo assim - de forma inquestionável - para a formação da autoimagem nacional.
Assim, fundamentada em questões culturais aplicadas ao futebol e aos mitos que ele construiu, o GRES Imperatriz Leopoldinense criou a ilusão carnavalesca que dá contorno estético e torna possível a materialização dos tais reis do futebol, do tal País do Futebol, da tal "Pátria de Chuteiras" expressa por Nelson Rodrigues.
Dessa maneira, ela apresenta e cria personagens. Trata a paixão nacional como teatro. Menciona times de futebol como quem faz menção à “dinastias.” Transforma o jogador em “Rei.” Faz desse “Rei” o “herói.” Faz da vida pessoal e profissional de Arthur Antunes Coimbra, o Zico - eterno camisa 10 rubro-negro - o “Arthur X” que apresenta como enredo.
Logo, a Imperatriz Leopoldinense que desenvolve uma temática futebolística, tendo o astro rubro-negro como personagem central de seu enredo, é a Imperatriz Leopoldinense de sempre: A Escola que gosta e aposta no carnaval que é cultura popular. A Agremiação que não dissolve – seja qual for o enredo – a tríade de sucesso que une a história oficial, o gosto pela pesquisa e seu direito de carnavalizar a realidade. Ou seja, as bases fundamentais que consolidaram seu prestígio ao longo das mais de cinco décadas de existência.
Tá ai o segredo do sucesso de um carnaval visto com desconfiança até o primeiro minuto em que "entrou em campo." Ao respeitar-se, ao honrar suas tradições - não de forma superficial - a Imperatriz  abriu uma vantagem. Uma "bola" que muitos acreditavam que ia pra "fora" acabou marcando um belo gol. Pena, um ou outro "perna de pau" prejudicar a "partida." Perdemos o jogo. Mas a Imperatriz sai de campo sabendo que fez bonito! E isso, para o "time" foi bom. Foi muito bom!

Leandro Vieira - Março de 2014.