terça-feira, 24 de abril de 2012

Desenvolvimento cenográfico (I)


O aspecto visual é um dado fundamental na estrutura atual da apresentação de uma Escola de Samba. No contexto geral do desfile contemporâneo, a visualidade sobrepõe o canto e a dança e torna o espectador refém de elementos estéticos que inserem à "festividade" do desfile, artifícios próprios do campo das artes visuais.
Na apresentação desenvolvida, o uso da arquitetura cênica se ocupa de maneira mais visível da geração dos cenários construídos junto a estrutura sob rodas que no carnaval do Rio de Janeiro tornou-se popular sob o título de "alegoria.”
No contexto do espetáculo propriamente dito, esta estrutura marca sua tendência em ser uma escrita no espaço tridimensional que cada vez mais se distancia da simples ornamentação, para aproximar-se de uma "cena" aprisionada pela composição resultante do conjunto de cores, luzes, formas, texturas, linhas e volumes, que criam movimentos e contrastes que formam junto as alas e aos adereços, a plasticidade do espetáculo.

Artisticamente, o conjunto alegórico é a máxima do caráter visual inserido no contexto do desfile. Uma alegoria, é um palco sobre rodas que reforça a categoria visual da apresentação e aproxima o desfile ao espetáculo. São formas espaciais que assumem destaque no contexto visual pela proporção e pelo grau de rebuscamento que atinge seu desenvolvimento em busca do belo. O post é ilustrado com imagens do desenvolvimento cenográfico  que supervisionei durante o carnaval de 2010. A concepção é do carnavalesco Cahê Rodrigues. Os desenhos originais são de minha autoria e o desenvolvimento esteve a cargo do "super" Ricardo Dennis e sua equipe de profissionais.

Dono de uma habilidade requintada para o trabalho com a espuma, o artista desenvolve um trabalho inovador e de qualidade inquestionável junto à espuma escultural. Dentro de um contexto histórico, forma ao lado do carnavalesco e cenógrafo Oswaldo Jardim, a dupla de “ponta” na arte de transformar a leveza e a simplicidade da espuma, em obras de grande valor artístico. Para a concepção da alegoria que apresentamos, ele aplica todo seu conhecimento artístico para deleite daqueles que visualizam as belezas e minúcias de um “pedaço do mar” totalmente confeccionado em espuma e arte.



quarta-feira, 4 de abril de 2012

Fantasia de musa: Eis a questão!


Desenvolver fantasia de musa nunca conseguiu sobrepor meu interesse em desenvolver o conteúdo formal de um figurino de ala ou o conjunto estético de uma alegoria. O Figurino de uma musa está muito mais na mão de quem vai confeccioná-lo, do que deste aqui que o idealiza. Outra dificuldade deste desenhista é a pergunta que me consome durante a criação de uma roupa dessas: Qual figurino vestiria melhor, por exemplo, uma mulher como a Vânia Love, senão a ausência de uma fantasia? Meu Deus! Para que cobrir aquilo que o senhor criou com tamanha perfeição? Todavia, faz parte do ofício  desenvolver esta complicada atividade de colocar conteúdo artístico em um "sutiã" e uma "calcinha." No post, alguns originais apresentam a criação.

Acima, no detalhe inicial, o figurino original desenvolvido para Ana Hickmam. Abaixo, o original em aquarela e lápis do figurino desenvolvido para a Rainha da Bateria de 2012: Ana Furtado. 



Acima, a sempre festejada semelhança entre o figurino desenvolvido e a execução final. À esquerda, o desenho original desenvolvido em Setembro de 2011. À direita, Tatiana "Feiticeira" pelo fotógrafo Ricardo Almeida no Desfile oficial. 

sexta-feira, 30 de março de 2012

Rascunhos e originais do Carnaval 2012






O "post" é ilustrado com os estudos iniciais para o projeto desenvolvido em 2012. Acima, o esboço revela as primeiras ideias para a "ala de casais" que homenageava o ator Grande Othelo. A concepção foi inspirada no musical que unia em cena a vedete Virgínia Lane e o ator para recriarem a composição Boneca de Pinche  - autoria de Ari Barroso. Abaixo, os primeiros estudos e o detalhe do figurino original intitulado "Viúva Alegre." Visão da tradicional indumentária negra, com um leve toque de malícia. Em seguida, o protótipo original desenvolvido a partir do estudo da ilustração - realização do Claudinho e sua equipe.

Foto: Leandro Vieira



Aquarelas para série "subúrbio"

Aquarelas Leandro Vieira
Aquarelas Leandro Vieira

quinta-feira, 29 de março de 2012

Candeia e Moacyr


Cor viva

A cor é um importante elemento plástico em projetos artísticos. No carnaval, ela dita a intervisualidade da obra, e dentro da lógica do processo visual, acaba por impor o ritmo de apreciação do conjunto geral em desfile. Isto se dá em função de características próprias atribuídas a utilização das cores.

Sua utilização consciente, permite apresentar idéias, iniciar e encerrar setores, construir sensações e transmitir significados, que acabam por gerar múltiplas possibilidades artísticas graças à sua comprovada influência psicológica e sensorial.

O "post" em si não apresenta a coloração geral do projeto de carnaval que estive envolvido, mas exemplifica o uso da cor através de um dos figurinos desenvolvidos. De um modo geral, aplicar cor em figurino de carnaval tende a aprisionar "cor" e significado real de "objeto colorido." Todavia, a utilização das reservas psicológicas da coloração podem gerar um interessante recurso visual.

Outra tendência em projetos de carnaval, é a manutenção de uma cartela de cores não contrastante. Com raras exceções pode-se encontrar a cor combinada em antagonismo - se é que existe antagonismo para a combinação de cores.

Seja como for, o uso consciente da cor deve ser apreciado. Se além de beleza, o uso da cor pode causar sensações na percepção humana, porque não utiliza-lá com propriedade? Abaixo o processo cromático e o desenvolvimento do figurino criado para ocupar destaque central em uma das alegorias do projeto de 2012. A alegoria em questão abordava a superação de situações traumáticas associadas ao corpo, Moana Pires deveria apresentar um figurino que remetesse à alegria por superar. A tradução de uma "festa" interior em função de uma realização.

Servindo-se da teoria da cor, foi desenvolvido uma "gama cromática" que fez uso da harmonia das cores complementares. Uma harmonia complementar é intrinsecamente uma harmonia de contraste. Uma opção que funciona muito bem se são combinadas cores frias e cores quentes, como por exemplo vermelho com verde-azul ou azul com amarelo. De um modo geral transmite alegria. A composição final resultante da combinação  fica marcada com a vibração das cores antagônicas no círculo cromático.




O branco entrou como cor dominante deixando a composição das cores complementares para "acento." Vale destacar que essa combinação serve muito bem em destaques principais, já que é ideal para atrair a máxima atenção do espectador; saltando aos olhos dos que a observam. Abaixo, a ambiência final da execução que esteve a cargo de Henrique Filho, e Moana Pires, captada pelas lentes de Márcio Sheeny.
















quarta-feira, 28 de março de 2012

Rascunhando o velho samba


Acabou que a música de um velho disco ditou outros caminhos: Da esquerda para direita, os rascunhos do velho mestre-sala mangueirense "Delegado," o mestre do partido Aniceto do Império, e o lendário compositor da Serrinha, Mano Décio da Viola

A MPB na ponta do lápis

Passada a correria de desenvolver um carnaval, volto a debruçar-me em uma paixão: Ouvir "velhos" sambas e trazer para o papel, impressões  daqueles que fizeram, e fazem, a história da MPB.

Acima: o desenho bem humorado da cantora Emilinha Borba, o esboço para Wilson Baptista, o sambista Ciro Monteiro, o detalhe da cantora Carmem Costa, Angela Maria, Cauby Peixoto e a cantora Nora Ney
Acima, um pequeno detalhe do compositor Lamartine Babo, a cantora Dalva de Oliveira, o bem humorado traço para retratar a sambista Aracy de Almeida, e o mestre Dorival Caymmi.





terça-feira, 27 de março de 2012

Para o processo criativo que pretendia desenvolver o figurino em homenagem a bailarina Mercedes Baptista foi preciso mergulhar em seu universo particular. Primeira bailarina negra a ingressar no corpo de balé do Municipal, sua carreira atinge o auge a partir de 1950, quando a mesma lança luz ao estudo dos movimentos ritualísticos do candomblé e das danças folclóricas. 

Autora de coreografias até hoje identificadas com o repertório gestual da dança afro, a associação de sua figura com o balé e a exuberância visual da cultura negra, direcionaram o desenvolvimento do figurino.

Abaixo, o esboço original capta a atmosfera geral: a visão de uma bailarina construída a partir de elementos tradicionais da estética afro. A cartela cromática faz uso de cores vibrantes associadas a elementos terrosos e a “cartela crua.”

O figurino original “Tributo a Mercedes Batista” desenvolvido em aquarela sob papel possibilita a melhor compreensão da proposta defendida sob a argumentação dehomenagear à artista através de um figurino que reproduz o misto entre o classicismo de sua formação durante os anos do Municipal, e a cultura afro por ela difundida e valorizada” tal qual o escrito na justificativa enviada ao jurí.


Ao lado, a ambiência geral desenvolvida a partir dos elementos sugeridos pelos estudos iniciais: o uso de cores vivas, a padronagem de motivos tribais, o uso de elementos rústicos como a palha, e a coloração da cartela de base terrosa e crua. 
Abaixo, o protótipo original. Na imagem seguinte', o visual final do conjunto de fantasias durante o desfile
Foto de Leandro Vieira


















Foto de Victor R. Caivano / Associated Press