segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Duas "mãos" para um só carnaval.

A dupla de cenógrafos.
Mário e Káká Monteiro foram "a" novidade do universo de trabalho do meu último carnaval. A gabaritada dupla de cenógrafos foi contratada para desenvolver o conjunto alegórico do projeto em que me envolvi ao longo do ano que passou. Ao carnavalesco Cahê Rodrigues, e a este que escreve, foi destinado o desenvolvimento teórico do enredo, bem como, seu conjunto de fantasias. 

Assinado em parceria tripla - Cahê, Mario e Káká - o enredo que tinha o Pará como tema foi desenvolvido de maneira "dividida" por dois modos de fazer e pensar carnaval distintos: De um lado a cenografia teatral validada pela experiência televisiva, do outro, o exagero característico da carnavalização validado pela experiência do barracão. 

Como se houvesse um desacordo entre a mão esquerda e a direita para a execução de uma só tarefa, cada um dos projetos  - tanto o de alegorias quanto o de fantasias - foram concebidos de forma isolada. Um no PROJAC, outro, no barracão da Cidade do Samba. Sendo assim, nem o carnavalesco foi o cenógrafo das alegorias, nem o cenógrafo foi o carnavalesco das fantasias. 

O fato é que curiosamente houve um entrosamento espontâneo, fruto de um entendimento velado - não dito mas entendido - onde ficava claro para as partes, que a melhor opção estética para a Imperatriz de 2013 era uma aproximação plástica da Escola com suas vocações estilísticas. Estas vocações, mais fáceis de serem feitas do que explicadas, independiam dos gostos ou das habilidades distintas dos envolvidos.
Minúcia na decoração: Uma marca da Imperatriz Leopoldinense.







Plasticamente falando, tudo foi concebido de forma "amaneirada." "À maneira" da visão que a maioria das pessoas possuem da Imperatriz. Tanto o projeto da "mão esquerda" quanto o da "mão direita" - isolados e distintos no modo de fazer - acabaram por realizar uma obra, cuja grandeza não estava em adotar aptidões pessoais, e sim, a aptidão coletiva de uma escola que já havia "cristalizado" sua "roupagem" pessoal.
Alegorias: Acabamento associado ao "gigantismo calculado."
Como que se fosse adotado um "modelo clássico" - que serviu de padrão estético para as "correntes" envolvidas embasarem suas decisões plásticas - a Escola de Ramos apresentou um desfile esteticamente coeso, não havendo distinção perceptível  entre a plástica da fantasia e da alegoria - como a maioria dos críticos pré-carnavalescos julgavam como certa. 


Não sei se mais cenográfica do que carnavalesca, ou mais carnavalesca do que cenográfica, o fato é que a Imperatriz de 2013, tinha a cara da "Imperatriz:" A visão clássica de uma escola bem vestida, de fino e requintado acabamento, mais próxima da perfeição, detalhadamente executada, dada  à minucias e a exageros calculados. 
A imagem acima registra - segundo meu ponto de vista - um dos mais belos momentos plásticos do desfile apresentado. Nela, curiosamente, observa-se o entrosamento quase que total entre a fantasia que veste o componente e a cenografia que "veste" a alegoria. Diálogo plástico perfeito, entrosado, como que se tivesse sido feito por uma só "mão." Resumindo: Entre o que fez a "mão esquerda" e o que fez a "mão direita" esteve o que tinha de ser feito de mais adequado para a Imperatriz. Isto, fez a exata diferença entre o que poderia dar errado, e aquilo, que o resultado do carnaval mostrou ter dado certo. 

sábado, 17 de agosto de 2013

Caricaturas em desfile

O convite de desenvolver um projeto de caricaturas que seriam transformadas em um conjunto escultórico me encheu de entusiasmo. Uma possibilidade de unir duas das minhas maiores preferências artísticas: o desenho de humor e o ofício de desenvolver projetos de carnaval. A proposta, feita pelo carnavalesco Fábio Ricardo, consistia em desenvolver um divertido conjunto de esculturas que retratassem personagens consagrados da teledramaturgia brasileira a fim de compor a cenografia da alegoria que encerraria o desfile desenvolvido pelo artista para a São Clemente.
Para uma agremiação cujo a "marca" é a irreverência, um expressivo conjunto de caricaturas "cairia como uma luva" para reforçar uma visão plástica associada ao bom humor. 
Fábio Ricardo: Generosidade criativa e inteligência plástica.

Após a seleção das imagens dos atores e atrizes escolhidos pelo carnavalesco - cerca de trinta nomes de personagens de diferentes épocas e novelas - o trabalho começou a ganhar corpo a partir de esboços simples que buscavam a unidade estética do conjunto, captar a forma essencial, retratar expressões, e traçar um perfil divertido dos ícones da TV.
Os rascunhos iniciais que direcionaram o projeto.
Em tempo, um painel bem humorado começou a direcionar uma harmoniosa disposição de desenhos que deveriam ganhar a tri-dimensão e ocupar o espaço quase que total de uma alegoria com cerca de doze metros de comprimento. A partir do projeto artístico, decidiu-se a disposição das esculturas, a dimensão que ocupariam e o conjunto cromático mais adequado para harmonizar personagens distintos. Concluído o minucioso estudo das caricaturas, os desenhos passaram a ser agrupados a fim de direcionarem a intenção de um conjunto escultórico que atendesse as necessidades plásticas de uma alegoria.
No papel, personagens marcantes da teledramaturgia nacional.
Encerrada a fase dos desenhos, o projeto foi entregue ao escultor Flávio Polycarpo, a quem foi dada a tarefa de transformar os perfis desenhados em esculturas. Para a execução da obra, foi utilizada a mais tradicional maneira de esculpir carnaval: talento e isopor. Assim, durante semanas, os personagens inicialmente desenhados, passaram a ocupar o espaço físico do quarto andar do Barracão de alegorias da Escola.
Esculturas desenvolvidas no isopor por Flávio Polycarpo.





















Dando continuidade ao trabalho que antecede o desfile, as esculturas passaram pelas mãos de profissionais de outras áreas da produção carnavalesca - que incluíram processos fundamentais como laminação, pintura, forração e decoração - até que a conclusão final pudesse ser apreciada pelo público. Nas imagens que seguem, mais detalhes do elogiado conjunto escultórico, e o registro de sua conclusão, no desfile oficial realizado pela Escola, no último carnaval.





















quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Um aprendiz do ofício que se ensina na Imperatriz!

Retomando as linhas esquecidas neste espaço, coloco em dia a realidade do trabalho de agora. As últimas postagens - desatualizadas há algum tempo - referem-se ao período em que atuei diariamente na equipe responsável por desenvolver os projetos artísticos dos carnavais do GRES Acadêmicos do Grande Rio. De lá pra cá muita coisa mudou e há dois anos meu expediente de trabalho se dá no barracão de uma escola que pelo requinte e inteligência de sua plástica mais permanente, há alguns anos - ou melhor, há muitos anos - povoavam meu universo criativo.


Aqueles - como este que escreve - que passaram os anos noventa acompanhando as propostas estéticas do carnaval carioca, de forma inevitável tiveram sua mentalidade criativa moldada pelo trabalho magistral da carnavalesca Rosa Magalhães. Referência para muitos - ou quase todos - que a partir dos anos 2000 fizeram do desenvolvimento plástico e intelectual de uma ideia, matéria prima para seu ofício diário.


Em todos os profissionais que desenvolvem - seja de maneira plástica ou teórica - o carnaval que se faz hoje, há uma semente, que planta em cada envolvido, um modo de fazer, tal qual, o da "professora."

Me formei na Escola de Artes onde ela foi mestra, e trabalhar no departamento criativo da Escola de Samba onde por consecutivos anos sua atuação foi referência, me enchem de entusiasmo e alegria. Mestra das águas onde ponho meu barco de trabalho,ela, mais do que qualquer outro carnavalesco ou carnavalesca, plantou por onde passou - e ela passou por onde estou agora - o entendimento de profissão enquanto ofício. 


Trabalhar na Imperatriz Leopoldinense há dois carnavais, tem sido a maior alegria do ofício que exerço. Um prazer que só os que admiram "o fazer carnaval" enquanto "ofício" podem entender. Ofício que é trabalho para todo dia, repetido sistematicamente para firmar-se enquanto aprendizado, feito por poucos, para que não emerja o ócio, sem o "luxo" que inverte valores, e cujo o valor, não é medido por salários, mas pela qualidade daquilo que é feito.