sexta-feira, 14 de março de 2014

A Imperatriz "boa de bola!"

















Ao tratar um astro do futebol como tema de seu carnaval, a Imperatriz Leopoldinense transformou a vida do homem que escolheu como enredo em um teatro que envolve sua paixão: O gosto por carnavalizar e a aptidão em tornar temas densos, em alegres passagens carnavalescas traduzidas em samba e plasticidade.
No enredo que apresentamos, a Imperatriz utiliza o futebol como pretexto para mergulhar em suas obsessões carnavalescas. Ela mais uma vez quer subverter a ordem historiográfica para criar um ponto de vista particular, a seu modo, e a sua maneira.  Debruçada em expressões populares – como a que diz que aqui é “o país do futebol” – ela cria “mundos” próprios, onde o que ela fantasia, é fundamentado sobre uma ideia coletiva existente no senso comum, mas que não tem a condição de assumir a realidade, senão pelas “mãos" permissivas dos dias de folia.
Certa vez, com a sabedoria costumeira, o escritor e jornalista Nelson Rodrigues definiu o Brasil como “a pátria de chuteiras.” A intenção da expressão cunhada pelo cronista era definir a paixão coletiva do povo brasileiro por um esporte que nasceu inglês, mas foi naturalizado verde e amarelo, não apenas em função da categoria de nossos profissionais, mas, sobretudo, pela prática diária e coletiva de um esporte tão enraizado, ao ponto de alguns estudiosos o considerarem uma legítima manifestação cultural, que configura o principal fenômeno da psicologia coletiva do país, contribuindo assim - de forma inquestionável - para a formação da autoimagem nacional.
Assim, fundamentada em questões culturais aplicadas ao futebol e aos mitos que ele construiu, o GRES Imperatriz Leopoldinense criou a ilusão carnavalesca que dá contorno estético e torna possível a materialização dos tais reis do futebol, do tal País do Futebol, da tal "Pátria de Chuteiras" expressa por Nelson Rodrigues.
Dessa maneira, ela apresenta e cria personagens. Trata a paixão nacional como teatro. Menciona times de futebol como quem faz menção à “dinastias.” Transforma o jogador em “Rei.” Faz desse “Rei” o “herói.” Faz da vida pessoal e profissional de Arthur Antunes Coimbra, o Zico - eterno camisa 10 rubro-negro - o “Arthur X” que apresenta como enredo.
Logo, a Imperatriz Leopoldinense que desenvolve uma temática futebolística, tendo o astro rubro-negro como personagem central de seu enredo, é a Imperatriz Leopoldinense de sempre: A Escola que gosta e aposta no carnaval que é cultura popular. A Agremiação que não dissolve – seja qual for o enredo – a tríade de sucesso que une a história oficial, o gosto pela pesquisa e seu direito de carnavalizar a realidade. Ou seja, as bases fundamentais que consolidaram seu prestígio ao longo das mais de cinco décadas de existência.
Tá ai o segredo do sucesso de um carnaval visto com desconfiança até o primeiro minuto em que "entrou em campo." Ao respeitar-se, ao honrar suas tradições - não de forma superficial - a Imperatriz  abriu uma vantagem. Uma "bola" que muitos acreditavam que ia pra "fora" acabou marcando um belo gol. Pena, um ou outro "perna de pau" prejudicar a "partida." Perdemos o jogo. Mas a Imperatriz sai de campo sabendo que fez bonito! E isso, para o "time" foi bom. Foi muito bom!

Leandro Vieira - Março de 2014.