
Ao tratar um astro do futebol
como tema de seu carnaval, a Imperatriz Leopoldinense transformou a vida do
homem que escolheu como enredo em um teatro que envolve sua paixão: O gosto por
carnavalizar e a aptidão em tornar temas densos, em alegres passagens carnavalescas
traduzidas em samba e plasticidade.
No enredo que apresentamos, a
Imperatriz utiliza o futebol como pretexto para mergulhar em suas obsessões
carnavalescas. Ela mais uma vez quer subverter a ordem historiográfica para
criar um ponto de vista particular, a seu modo, e a sua maneira. Debruçada em expressões populares – como a
que diz que aqui é “o país do futebol” – ela cria “mundos” próprios, onde o que
ela fantasia, é fundamentado sobre uma ideia coletiva existente no senso comum,
mas que não tem a condição de assumir a realidade, senão pelas “mãos"
permissivas dos dias de folia.
Certa vez, com a sabedoria
costumeira, o escritor e jornalista Nelson Rodrigues definiu o Brasil como “a
pátria de chuteiras.” A intenção da expressão cunhada pelo cronista era definir
a paixão coletiva do povo brasileiro por um esporte que nasceu inglês, mas foi
naturalizado verde e amarelo, não apenas em função da categoria de nossos
profissionais, mas, sobretudo, pela prática diária e coletiva de um esporte tão
enraizado, ao ponto de alguns estudiosos o considerarem uma legítima
manifestação cultural, que configura o principal fenômeno da psicologia
coletiva do país, contribuindo assim - de forma inquestionável - para a formação da autoimagem nacional.
Assim, fundamentada em questões
culturais aplicadas ao futebol e aos mitos que ele construiu, o GRES Imperatriz
Leopoldinense criou a ilusão carnavalesca que dá contorno estético e torna
possível a materialização dos tais reis do futebol, do tal País do Futebol, da
tal "Pátria de Chuteiras" expressa por Nelson Rodrigues.
Dessa maneira, ela apresenta e
cria personagens. Trata a paixão nacional como teatro. Menciona times de
futebol como quem faz menção à “dinastias.” Transforma o
jogador em “Rei.” Faz desse “Rei” o “herói.” Faz da vida pessoal e profissional
de Arthur Antunes Coimbra, o Zico - eterno camisa 10 rubro-negro - o “Arthur X”
que apresenta como enredo.
Logo, a Imperatriz Leopoldinense
que desenvolve uma temática futebolística, tendo o astro rubro-negro como
personagem central de seu enredo, é a Imperatriz Leopoldinense de sempre: A
Escola que gosta e aposta no carnaval que é cultura popular. A Agremiação que
não dissolve – seja qual for o enredo – a tríade de sucesso que une a história
oficial, o gosto pela pesquisa e seu direito de carnavalizar a realidade. Ou
seja, as bases fundamentais que consolidaram seu prestígio ao longo das mais de
cinco décadas de existência.
Tá ai o segredo do sucesso de um carnaval visto com desconfiança até o primeiro minuto em que "entrou em campo." Ao respeitar-se, ao honrar suas tradições - não de forma superficial - a Imperatriz abriu uma vantagem. Uma "bola" que muitos acreditavam que ia pra "fora" acabou marcando um belo gol. Pena, um ou outro "perna de pau" prejudicar a "partida." Perdemos o jogo. Mas a Imperatriz sai de campo sabendo que fez bonito! E isso, para o "time" foi bom. Foi muito bom!
Leandro Vieira - Março de 2014.